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A coisa imigrante

a coisa imigrante:

aquela, que pairava no ar o tempo todo. 

nas ruas, dentro dos trens, dos ônibus. nos pés, mãos, cabelos. 

que vazava dos olhos curiosos quase sempre discretos dos quem pertenciam por nascimento e raiz, na existência confortável que lhes acontecia aos meus olhos.

a coisa imigrante, que habitava aquelas presenças silenciosas gritando lugares e histórias longínquas. 

na humanidade que aproximava todo mundo, mas que, ao mínimo fio de estranhamento, já expunha um exotismo exausto de tanto existir, de tanto não ser dali.

 

quando olhos alheios insistem na mirada, estes reafirmam a lonjura encrustada na carne, tatuam uma fronteira na pele, decodificam a caminhada e escancaram a distância. 

quando olhos alheios insistem na mirada, perde-se o manto da invisibilidade padronizada que se faz necessário vestir quando a urgência é seguir.

 

existir é preencher o mundo de presença, mas para resistir, às vezes é preciso parecer inexistir. se esconder na multidão é inexistir existindo (já pertencer na multidão, é existir num corpo que só existe quando estes são muitos.)

 

o novo cheiro do mundo é de curry, mango, coconut, merguez, açaí. é cheiro de advieh, banana, shisha, zatar, berbere. 

o novo cheiro do mundo tem cheiro de colônia barata. é sangue alheio que escorreu e agora volta para as veias dos desbravadores assassinos do passado. doa a quem doer.

(Frankfurt am Main, 2012)

IMIGRAÇÕES - série, 2010 a 2014
caneta nanquim e aquarela sobre papel

MULHERES IMIGRANTES | série 2012 a 2014 | desenhos (caneta nanquim, aquarela e guache sobre papel)

RADIX | série , 2012 a 2013| desenhos (caneta nanquim, aquarela e guache sobre papel)

MAPA EMOTIVO | série,  2012 | desenhos (caneta nanquim sobre papel)

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